Paula Tavares

Paula TavaresPaula Tavares (1972-2009) – Bióloga, Investigadora e Activista Ambiental

Não nasceu no Pragal, mas foi registada como se aí tivesse nascido, a freguesia do concelho de Almada onde sempre viveu e, por esse motivo, a que ficou ligada por múltiplos afectos – a Creche Popular, a Escola Primária, a Escola Secundária Fernão Mendes Pinto.

A paixão pela dança na adolescência faz com que se inscreva na então Escola de Dança da Academia Almadense, orientada pela Professora Maria Franco.

 “Conheci a Paula com 13 anos de idade na Academia Almadense… Queria ser bailarina, pediu-me. (…) Alguns anos mais tarde integrava o Grupo de Dança de Almada. Criativa e empenhada, queria atingir a perfeição em todos os movimentos que executava”.  (Maria Franco, in Uma Ciência de Rosto Humano, p. 167)

Para além da Companhia de Dança de Almada, onde trabalhou com a coreógrafa Ana Maçara, Paula Tavares integrou também a Companhia de Dança de Lisboa sendo dirigida pelo coreógrafo João Fiadeiro.

Licenciou-se em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1996 e fez o seu estágio académico na Universidade do Algarve. Tirou o mestrado e doutorou-se em Ecologia e Ecotoxicologia pela Universidade dos Açores (Departamento de Oceanografia e Pescas no Faial). Fez o pós-doutoramento nas universidades de Aveiro, dos Açores e de Glasgow. Participou e coordenou projectos de investigação no Instituto Superior Técnico, onde era investigadora auxiliar, na altura do trágico acidente que lhe retirou a vida. Participou com comunicações em diversos congressos nacionais e estrangeiros e publicou artigos em revistas internacionais de referência no campo científico. (ver CV completo em anexo).

Da sua dedicação à Ciência ficam os seguintes testemunhos:

 “Tendo privado  com a Paula Tavares, primeiro como professor e orientador, depois como colega e amigo, não pude deixar de admirar a sua imensa capacidade de trabalho, a par com o rigor científico e uma inquestionável sagacidade para se aperceber dos mais ínfimos pormenores de uma qualquer investigação”. Luís Fonseca – Professor na Universidade do Algarve  (Uma Ciência de Rosto Humano, p. 21)

“A passagem da Paula Tavares pelo CVRM – Centro de Geosistemas do IST, deixa uma marca muito forte em todos aqueles que  trabalharam e conviveram com ela. A sua extraordinária capacidade de trabalho, a sua constante disponibilidade para desenvolver tarefas muitas vezes para além da sua área de investigação, a sua generosidade para com os outros, a sua constante curiosidade por matérias novas fazem da Paula alguém que não esqueceremos. É comum dizer-se que não há pessoas insubstituíveis. No caso da Paula podemos dizer sem sombra de dúvida que desapareceu alguém que é na verdade insubstituível” Luís Ribeiro – Director do Centro de Geossistemas do Instituto Superior Técnico  (Uma Ciência de Rosto Humano, p. 17)

Como activista social destacam-se as suas intervenções nas seguintes áreas:

Ambiente – Participou em muitas actividades e desenvolveu acções com grupos e associações ambientalistas (Quercus, LPN, GAIA). Dinamizou no Bloco de Esquerda, em Almada, o Grupo Vida Urbana e Ambiente e diversas acções a nível distrital e nacional. Colaborou regularmente com artigos para o Ecoblogue. Deu apoio à dinamização de um rede de acção para a denúncia e intervenção em crimes ambientais. Participou na organização Fórum Social Português em Almada, em 2006 e colaborou, neste âmbito, com o CIDAC.

Comércio Justo – Foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação de Comércio Justo “Mó de Vida” e sua colaboradora regular tendo dinamizado diversas actividades entre as quais se destaca a das Hortas Urbanas, sendo pioneira desta área de intervenção em Almada.

Feminismo – Participou activamente nas campanhas pela despenalização do aborto, realizou acções na UMAR sobre educação ambiental e soberania alimentar e lançou a ideia da formação do Grupo “Género e Água” para intervenção junto de mulheres africanas.

De todas estas actividades, recolhem-se os seguintes testemunhos:

 “Ao abrir as portas em 2003, no espaço da PLURICCOP no Pragal, recordamos com emoção a primeira visita. Era a juventude de tranças que disse chamar-se Paula, bióloga a fazer  doutoramento e muito entusiasmada porque a cooperativa do Pragal trazia para o local a actividade do Comércio Justo (…) Da Mó já não saíste! Como cooperadora trouxeste para o grupo a tua vivência académica, como investigadora e activista dos movimentos ecologistas. Sempre crítica feroz da prepotência humana sobre os demais seres que co-habitam o ecossistema e inquieta face ao individualismo que se aprofunda com o modelo capitalista de desenvolvimento”. Carolina Leão – Cooperativa Mó de Vida (Uma Ciência de Rosto Humano, p. 151).

“Conheci a Paula no Fórum Social Português. (…)  A primeira demonstração que a Paula me deu foi que a unidade do movimento social era possível, apesar das suas distintas visões e ideologias. Articulava como ninguém os seus vários papéis na sociedade, os seus vários interesses. A investigação académica, as colaborações com o Bloco de Esquerda e as participações em associações, movimentos ou plataformas fora do espectro partidário.” Gualter Baptista, GAIA Uma Ciência de Rosto Humano, p. 156).

“ A minha cumplicidade com a Paula surgiu na preparação do II  Fórum Social Português. (…) A Paula trouxe ao grupo o seu entusiasmo e a sua disponibilidade. E a sua vivência no terreno da intervenção ambientalista, que lhe proporcionava uma grande sensibilidade na procura de pontes entre as várias sensibilidades presentes, sem com isso perder a firmeza nas suas convicções”.  António Pinto Pereira – CIDAC (Uma Ciência de Rosto Humano, p. 152).

Desconstruir as formas de pensar e de agir hegemónicas que nos adormecem na busca de novas soluções para a humanidade foi um dos grandes contributos da Paula Tavares durante a sua curta estadia entre nós. Pensar e agir para mudar o mundo com um empenho pouco usual que fez dela uma pessoa muito especial.

 “Não se deixem resignar e amargurar seja qual for o rumo que isto levar. Afinal este é o nosso tempo e só nele podemos concretizar”. (Paula Tavares,  “De Moore a Kunstler: se o humano não escapa à sua biologia … o regresso à Barbárie ?”, in Ecoblogue, 18/10/2008)