“Homenagem à integridade de Paula Tavares”, Paula Chainho, 31-10-2013

Reproduzimos integralmente o artigo de Paula Chainho, vogal da Fragas Aveloso, publicado em 31 de Outubro de 2013 no Setúbal na Rede. Consulte aqui o artigo original.

Paula Tavares completaria 41 anos no dia 3 de Novembro… se não tivesse sido cruelmente arrancada à vida em 2009. Era uma activista ambiental fervorosa, mas conseguia integrar nessa luta os interesses e direitos dos homens e das mulheres, os valores culturais próprios de diferentes países e regiões e o rigor científico.

A dedicação à defesa dos valores ambientais foi alvo de interesse crescente ao longo dos últimos 30 anos em Portugal. Cada vez mais pessoas se preocupam com as consequências ambientais do seu modo de vida e das opções que fazem diariamente, quer seja da forma como se deslocam, do tipo de produtos que consomem ou da quantidade de recursos que usam. No entanto os activistas mais interventivos pelas causas ambientais são frequentemente apelidados de fundamentalistas, pelo facto de defenderem esses princípios como prioridade absoluta. A Paula Tavares era uma activista ambiental, mas as suas prioridades reuniam um conjunto de princípios indissociáveis que iam muito além das causas ambientais. A Paula preocupou-se, no âmbito da sua carreira científica, com os impactes das actividades humanas para obtenção de alimentos, como foi o caso dos estudos sobre a aquacultura e as potenciais ameaças à biodiversidade associadas a esta actividade. Mas paralela a esse interesse científico, esteve sempre aliada a inquietação relativa aos direitos dos homens/mulheres e dos animais, a necessidade de garantir a soberania alimentar das populações e de combater a exclusão social e a premência de defender os mais fracos e mais desprotegidos.

Nas suas reflexões frequentes a Paula perguntava-se: “Qual o sentido do activismo? Fazemo-lo porquê, por quem? Quando me preocupa a destruição de uma zona natural, faço-o em função de quê ou de quem? Certamente em função da sua importância actual, pois em função do futuro não chegaria…”

Uma das características vincadas da Paula era nunca baixar os braços, mesmo que reconhecesse ser muito difícil mudar crenças e hábitos arreigados na maioria que a rodeava. E por isso declarava: “Aos ecologistas, onde sem medo me auto-incluo e também aos tecno-confiantes, onde se auto-incluem vários dos meus amigos ecologistas, faço o seguinte apelo: não se deixem resignar e amargurar seja qual for o rumo que isto levar. Afinal este é o nosso tempo e só nele poderemos concretizar.”

 Todos estes interesses complementares desaguavam no seu activismo político, em que tentou intervir ao nível da tomada de decisões, como forma de concretizar os seus ideais. A Paula Tavares deixa muitas saudades, mas deixa também a sensação indelével de perda para as causas ambientais, sociais e humanas. Por isso foi fundada, em 2013, a Fragas – Associação para a Interação Ambiental, Científica, Comunitária e Cultural, que busca reunir as interações sócio-ambiental e cultural com o envolvimento das comunidades locais, à semelhança do que era a matriz da Paula. Esta associação está sedeada em Aveloso do Sul, de onde a família da Paula era oriunda e à qual tinha ligações afectivas fortes.

A Paula vivia em Almada e grande parte da sua actividade científica e de intervenção ambiental e política fez-se na região de Setúbal, incluindo os estuários do Sado e do Tejo e a lagoa de Santo André, onde semeou ideias e vontade de dar continuidade ao seu trabalho árduo. Paula, as tuas ideias continuam vivas!